Tóquio – A problemática do bullying no Japão tomou forma com a divulgação de um levantamento do Ministério da Educação, que mostra que, em 2016, houve 323.808 casos em todo o arquipélago.
Os dados são os mais altos já registrados pelo governo. Em comparação a pesquisa de 2015, houve um aumento de 44%, com 98.676 casos a mais no levantamento anual.
O aumento do “ijime” (como é chamado em japonês) indica que o governo tem melhorado os métodos de registro, colocando no papel pequenos casos que antes permaneciam ocultos.
Segundo reportagem do Jornal Nikkei, o Ministério passou a solicitar que as escolas ficassem atentas até nos pequenos desentendimentos entre estudantes, para que fosse possível identificar logo no início.
O levantamento mostrou que o problema de maus tratos entre estudantes é mais comum nas escolas primárias (shougakkou). De todos os casos, 237.921 (57% a mais do que em 2015) aconteceram neste nível de ensino, o que representa 70% do total.
Em segundo lugar está a escola ginasial (chuugakkou), onde aconteceram 20% de todos os casos. Em 2% do total de casos, o problema foi registrado em escolas de ensino médio (koukou). O levantamento também contou os casos ocorridos nas escolas especiais (Tokubetsu Shien Gakkou).
Os casos de violência também aumentaram nas escolas primárias, com um registro de 22.847 ocorrências (34% a mais do que 2015). Em relação a esse registro específico, o Ministério analisou que houve uma mudança de comportamento dos professores.
“Com o maior reconhecimento do bullying, os professores pararam de tratar casos de violência de forma particular e passaram a anunciar o ocorrido, o que acarretou no aumento do registro”, disse um porta-voz.
O Ministério também considerou que há um aumento no número de crianças com dificuldades em controlar as próprias emoções, o que pode estar também relacionado a maior visibilidade de brigas entre alunos do primário.
Os casos de reconhecimento de bullying foram mais elevados em Quioto, com 96 ocorrências para cada 1.000 pessoas. A província com o menor registro foi Kagawa, com 5 casos na mesma proporção, o que é 19 vezes mais baixo.
O levantamento mostrou também um aumento no número de escolas que reconhecem problemas de bullying. Desta vez, 68% de todas as instituições emitiram registros, o que acarretou em um crescimento de seis pontos.
No entanto, 30% das escolas do país alegam que não houve nenhum caso de ijime e o Ministério considera o número extremamente elevado, o que pode indicar dificuldades no reconhecimento de casos por parte de muitas instituições de ensino.
O Ministério adotou medidas para pressionar as escolas que alegam não registrarem bullying, para que fiquem atentas ao comportamento dos alunos. Em contrapartida, para as instituições que registram casos elevados, a orientação é reforçar com os alunos a importância da vida e efetivar métodos de prevenção.
Em entrevista ao jornal, o professor da Universidade Ryukoku, Yoshimitsu Matsuura, que é pesquisador na área, comentou que há várias medidas eficientes que cada escola deveria tomar.
“As escolas devem abrir um centro de atendimento interno e construir um ambiente no qual os alunos se sintam à vontade para pedir ajuda e falar sobre problemas”, sugeriu.
Quanto ao aumento de casos de violência, o professor acredita que há vários fatores pessoais envolvidos. “Famílias em situação de pobreza ou que os filhos são criados apenas por um familiar sofrem com uma piora do ambiente de criação. Há um aumento do estresse infantil, que está relacionado a um comportamento de hostilidade”, analisou.
O Ijime ( いじめ / 苛め ) é como se chama o Bullying no Japão e infelizmente esse é um grande problema nas escolas japonesas, levando muitas crianças à abandonarem as escolas e até ao suicídio. Todos os anos são registrados milhares de casos de Ijime, segundo o Ministério da Educação do Japão, o que torna essa situação dramática em um grave problema na sociedade japonesa.
Segundo a revista Alternativa, no ano de 2012, em um período de 6 meses (entre abril e setembro) foram registrados 144 mil casos, mais que o dobro do ano passado inteiro, que chegou a 70 mil casos de Ijime, envolvendo tanto maus tratos físicos como psicológicos entre os alunos das escolas japonesas.
Dos 144 mil casos, 278 foram considerados críticos, envolvendo risco de vida. Por conta disso, campanhas contra o bullyng dentro das escolas, envolvendo alunos e professores serão incentivadas pelo Ministério da Educação, afim de conter esses números exorbitantes que podem causar graves sequelas emocionais.
A maior incidência de casos se deu no Shoogaku (Primário), com 88.132 episódios (aumento de 50 mil em relação ao ano passado), seguido pelo Chuugaku (Secundário) com 42.751 incidentes. Em terceiro, vem o kookoo (Ensino Médio), registrando 12.574 casos e na escola de apoio especial, foram 597 casos.
O aumento dramático, pode ser resultado da tecnologia e também do acesso fácil à internet e redes sociais, que fazem com que os agressores intimidem suas vítimas também através desses meios de comunicação, fazendo com que elas sejam agredidas, torturadas, chantageadas e humilhadas também virtualmente.
Os maus tratos compreendem em repetidas agressões verbais, físicas e psicológicas. É comum um grupo de agressores, extorquir dinheiro da vítima, roubar os seus pertences, humilha-la, xingá-la, queima-la com bitucas de cigarro, entre outras agressões ainda piores que tudo isso, que causam danos irreversíveis às vítimas.
Muitas crianças acabam abandonando a escola por medo das agressões. Outras são ainda mais drásticas e preferem tirar a própria vida do que continuar a viver aquela vida humilhante. As formas mais comuns de suicídio é enforcamento, se jogar de um lugar alto, como um edifício ou penhasco, se atirar na frente de um trem, etc.
Essa apuração foi realizada a mando de Hirofumi Hirano, ministro da Educação, após a repercussão da notícia do suicídio de um aluno do segundo ano do chuugaku, na cidade de Otsu (Shiga). O menino vinha sofrendo assédio moral por seus colegas e os professores faziam vista grossa para o que acontecia. Em 11 de outubro, ele resolveu por fim à sua vida, pulando do alto do seu prédio de 14 andares.
Esse garoto é apenas um dos milhares de casos que ocorrem desde sempre no Japão. Nem a neta do Imperador Akihito, passou ilesa ao Ijime. A princesa Aiko, de 8 anos, filha do príncipe Naruhito e da princesa Masako, deixou de frequentar as aulas por um período, alegando que a causa seria o Ijime por parte dos colegas.
Professores x Ijime
O Ijime, infelizmente está enraizado na sociedade japonesa, desde os tempos mais primórdios, o que torna um problema ainda mais difícil de ser resolvido de vez, embora seja possível reduzir o número de incidentes. O pior é saber que esse hábito terrível começa por aqueles que deviam denunciar os abusos: Os professores.
Eles são a maior causa do Ijime, pois o que dizer de professores que praticam maus tratos contra crianças diferentes, chegando até mesmo a ridiculariza-los perante as outras? Elas crescem achando que isso é normal e acabam sendo encorajados a praticar esses atos nefastos, praticado por grupos na maioria das vezes.
As vítimas são sempre os colegas mais “frágeis” fisicamente ou psicologicamente, sem a mínima estrutura para enfrentar o bando delinquente. Não delatam os maus tratos, por vergonha e por causa do descaso das autoridades das escolas a esse respeito. Além de cometerem ijime e influenciar as crianças a faze-lo, eles fingem não ver o que está acontecendo e omitem o fato, ao invés de denunciar.
Portanto, é preciso mudar a mentalidade dos educadores, para que se possa cortar o mal pela raiz. Só assim o Japão poderá ter esperança de ver menos casos de ijime acontecer nas escolas e ver as crianças mais felizes e seguras em uma escola com ambiente acolhedor, responsável pela formação acadêmica e psicológica do aluno.
Foto: iStockphoto
Fonte: http://www.alternativa.co.jp/Noticia/View/71924/Ijime-bate-recorde-nas-escolas-do-Japao-com-323-mil-casos-em-um-ano
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