Às 14h46 (2h46 em Brasília) do dia 11 de março de 2011, uma sexta-feira, o Japão começava a viver uma das maiores tragédias de sua história. Neste exato momento, a costa nordeste japonesa (região de Tohoku) sentiu o terremoto de magnitude 9 ocorrido na região. O sismo foi o quinto mais forte já registrado na história e o pior já ocorrido na nação asiática.
O tremor ainda causou um tsunami que varreu a costa japonesa e destruiu milhares de casas - além de ter danificado reatores da usina nuclear de Fukushima, dando início à segunda pior catástrofe nuclear da história mundial. A tríplice tragédia deixou 15.853 pessoas mortas e 3.283 desaparecidas, totalizando 19.136 vítimas - maior perda de vidas em um desastre desde a Segunda Guerra Mundial no Japão.
Um tsunami de mais de 10 metros de altura causado pelo forte tremor atingiu as costas de Tohoku e Kanto.
De acordo com a Agência Nacional de Polícia, desde 8 de março o número de pessoas mortas confirmadas era de 15.867 e 2.533 outras estavam desaparecidas. Pelo menos 22.131 morreram em decorrência do desastre de 2011, incluindo aquelas cujas condições saúde se deterioraram enquanto estavam em evacuação.
Muitos problemas não foram solucionados nas áreas afetadas, incluindo um declínio da população regional e idosos vivendo isolados.
Em sete municípios na província de Fukushima ainda há zonas de entrada proibida. Uma pesquisa realizada pela Agência de Reconstrução em fevereiro mostra de 51.778 pessoas de áreas afetadas ainda estão vivendo em outros lugares no país como evacuados. Esse número vem diminuindo gradualmente.
No desastre de 2011, três reatores na planta Fukushima Daiichi sofreram fusão no que é considerado um dos piores acidentes nucleares do mundo.
No mês passado, uma sonda robótica colocada dentro de um dos reatores fez contato direto com os detritos, o que deve ser uma mistura de combustível nuclear fundido e partes estruturais.
Por causa dos detritos que lembram um monte argiloso a sonda robótica teve dificuldades para se mover.
A remoção dos detritos é considerada a parte mais difícil do desmantelamento da planta.
O governo e a TEPCO – Tokyo Electric Power Company que opera a planta disseram que com base nos resultados da avaliação, eles esperam iniciar a remoção dos detritos dos reatores em 2021 após considerar até o fim de março de 2020 maneiras de realizar o trabalho.
Nesse meio tempo, a água refrigerada sendo despejada sobre os detritos nos três reatores está sendo coletada sob o solo. A água, misturada com água subterrânea que flui no complexo de encostas próximas, continua se acumulando como contaminada.
A Autoridade de Regulação Nuclear disse que liberar a água no oceano após diluí-la de forma suficiente abaixo do nível radioativo máximo permitido pelo governo será uma maneira razoável de lidar com o problema.
Contudo um plano final sobre como lidar com a água contaminada ainda será decidido por causa das objeções de pescadores locais.
Em Tóquio, o governo organizou uma homenagem nacional às vítimas. Às 14h46 (05h46 de Brasília), quando ocorreu o terremoto de magnitude 9, foi observado um minuto de silêncio. A cerimônia teve a presença do príncipe Akishino, filho mais novo do imperador Akihito, e sua esposa Kiko, ambos representantes do casal imperial.
O primeiro-ministro Shinzo Abe e outros membros do governo parentes das vítimas e representantes das autoridades locais, participaram desta cerimônia oficial, que acontece todos os anos, desde 2012.
Segundo Abe, a reconstrução está progredindo, mas dezenas de milhares de pessoas continuam com condições de vida muito difíceis.O governo quer que a região esteja pronta para os Jogos Olímpicos de Tóquio em 2020 e promete acelerar o trabalho.
O drama de Fukushima, relata Bruno Duval, correspondente da RFI em Tóquio, tornou os japoneses ainda mais atentos ao risco de catástrofes naturais e impactou o dia a dia da população. Segundo ele, muitos japoneses tem à disposição um kit de sobrevivência.
“Na minha mochila, tem um rádio, pilhas e uma lâmpada”, disse uma dona de casa. Os equipamentos, declarou, é caso ela tenha que deixar sua região com urgência. “Talvez eu não tenha tempo de fugir. Nesse caso, ficarei em casa e rezarei para que meu destino decida minha sorte”, completa.
Outras pessoas estocam alimentos e objetos em casa, como contou um morador de Fukushima. “Na minha casa, sempre tem água e comida suficiente para que eu possa sobreviver durante uma semana se não tiver mais nada para comprar em uma loja depois de um terremoto”, declarou.
Em oito anos, o número de pessoas que recorreram a um seguro em caso de terremotos como o que ocorreu em Fukushima não parou de crescer. Mas a realidade é que muitos prédios públicos não resistiriam a um novo tremor dessa intensidade.
As escolas, seguindo uma orientação do Ministério da Educação, a partir de agora também vão autorizar as crianças a trazer seu celular para o estabelecimento. “É o mínimo que se pode fazer”, diz um pai de família. “Depois de uma catástrofe, quero ter a possibilidade de ligar para minha filha logo em seguida para me assegurar que ela está bem”, diz.
De acordo com os especialistas, há 80% de probabilidade que, nos próximos trinta anos, um terremoto possa devastar uma grande parte da costa leste do país.