O Japão prepara-se para lembrar neste domingo o primeiro aniversário do grande terremoto e posterior tsunami que devastaram o nordeste do país no dia 11 de março de 2011, diante da indefinição sobre os planos urbanísticos de reconstrução e o futuro de aproximadamente 300 mil pessoas que deixaram ou perderam suas casas.
Todas as cidades litorâneas das províncias de Iwate, Miyagi e Fukushima celebrarão neste domingo homenagens aos quase 20 mil mortos e desaparecidos da catástrofe e se unirão, em um minuto de silêncio, às 14h46 locais (2h46 de Brasília), mesmo horário do terremoto de 9 graus na escala Richter.
O mesmo será feito em Tóquio, onde se convocou uma grande cerimônia da qual participarão, entre outros, o imperador Akihito e o primeiro-ministro Yoshihiko Noda.
Neste sábado, as cidades mais abaladas pelo desastre, como Onagawa e Ishinomaki, receberam mais ônibus com visitantes de diversos pontos do país que planejam comparecer aos atos oficiais, apesar das possíveis nevascas e temperaturas abaixo de zero esperadas para domingo na região.
Outros, que tiveram algum familiar entre os mortos, se deslocaram à região para participar dos ritos que quase todos os templos e santuários do nordeste devem organizar em homenagem às vítimas do 11 de março.
Em meio às cerimônias relacionadas ao aniversário, muitas cidades continuavam neste sábado com os trabalhos de limpeza de escombros, pois, segundo estimativas, ainda restam 6 milhões de toneladas de resíduos a serem recolhidas, das cerca de 22 milhões deixadas pelo tsunami.
Na vila pesqueira de Ogatsu, onde cerca de 200 pessoas morreram, os poucos moradores que permaneceram puderam finalmente observar, neste sábado, a retirada de um ônibus tombado sobre o teto de um ginásio esportivo que havia se transformado na triste estampa do local durante quase um ano.
No entanto, retirar até o último dos escombros não bastará para esclarecer o destino das 330 mil pessoas removidas da região da tragédia e que ainda vivem em casas temporárias e apartamentos de aluguel em todo o nordeste japonês.
Parte dos 80 mil desalojados por conta do acidente na usina nuclear de Fukushima não sabem se algum dia poderão retornar a suas casas, enquanto uma porção dos desabrigados - que perderam as casas pelo tsunami - se debate entre permanecer na região ou se mudar definitivamente.
De qualquer maneira, nenhuma prefeitura aprovou ainda a reconstrução dos bairros situados em zonas de risco junto ao mar e que devem ser transferidos a terrenos mais altos, pois a complicada geografia da região obriga a aplainar enormes superfícies, o que dispara os custos.
Além disso, alguns grupos são reticentes a reconstruir as pequenas localidades que, devido ao progressivo despovoamento do entorno rural, diminuíram nas últimas décadas, pois consideram que reerguer o município com um projeto mais centralizado economiza custos e garante sua sobrevivência.
Até um ex-prefeito de Onagawa, Nobutaka Azumi, chegou a dizer que não faria sentido recompor pequenas vilas afastadas onde só vivem idosos e que já estão condenadas a desaparecer.
"No caso das famílias jovens, muitos querem ir embora ou estão pensando nisso. Principalmente mães e crianças querem partir, porque têm medo", ressalta em declarações à Agência Efe o morador Noboru Masaki, um caminhoneiro de 63 anos que perdeu sua casa em Ishinomaki e agora vive com parentes.
"Para os jovens, é mais fácil fazer um novo começo, mas para as pessoas da minha idade não. Para nós, o 'jimoto' (cidade natal, em japonês) é o 'jimoto'", acrescenta.
O argumento de Noboru se reflete na redução demográfica registrada na costa nordeste do Japão nos últimos 12 meses, e é especialmente grave nas cidades mais devastadas, como Onagawa, Minami Sanriku e Rikuzentakata, onde a população decresceu 10% ou mais, segundo dados obtidos pela agência de notíciasKyodo.
Isso representa uma significativa queda nas receitas dos cofres públicos desses municípios e se soma ao fato de que muitas empresas locais afetadas pelo tsunami, que seriam o pilar da reconstrução, ainda não puderam retomar suas atividades.
Calcula-se que, dos 27 mil negócios afetados pelo desastre, mais de 20% ainda não reataram suas operações, e cerca de 1.750 já anunciaram que pretendem fechar.
Com um minuto de silêncio, badalar de sinos e orações, o Japão vai marcar no domingo o primeiro aniversário do terremoto seguido de tsunami que matou milhares de pessoas e desencadeou uma crise nuclear que destruiu a confiança do seu povo na energia atômica e nos líderes da nação.
Um ano depois que o terremoto de magnitude 9,0 desencadeou uma parede de água que atingiu a costa nordeste do Japão, matando cerca de 16 mil e deixando quase 3.300 desaparecidos, o país ainda está lidando com os custos humano, econômico e político.
Ao longo da costa, a polícia e a guarda costeira, pressionados pelos familiares dos desaparecidos, ainda procuram em rios e praias por restos mortais, embora as chances de encontrá-los seja remota. Sem os corpos, milhares de pessoas estão em um estado de limbo emocional e legal.
Koyu Morishita, de 54 anos, perdeu seu pai de 84 anos, Tokusaburo, assim como a sua casa e a fábrica de peixes da família, no porto de Ofunato. O corpo de Tokusaburo ainda não foi encontrado.
"Eu choro um pouco, de vez em quando, mas as minhas verdadeiras lágrimas virão mais tarde, quando eu tiver tempo", disse Morishita ao visitar um memorial para o seu pai, em um templo no alto do morro, acima de Ofunato, acompanhado por seu cachorro, Moku.
Como o resto do país, Ofunato vai fazer um minuto de silêncio às 14h46 de domingo (2h46 da madrugada em Brasília), horário em que o terremoto aconteceu, e novamente 33 minutos depois, quando uma parede de 23 metros de altura de água atingiu a cidade, matando 340 dos seus 41.100 habitantes e deixando 84 desaparecidos.
"Um sino de esperança" vai tocar e os enlutados vão para o mar lançar lanternas.
O povo japonês ganhou a admiração mundial pela sua serenidade, disciplina e resistência diante do desastre, enquanto suas empresas impressionaram pela velocidade com que conseguiram se recuperar, consertando as cadeias de fornecimento.
Como resultado, a economia tende a voltar aos níveis pré-desastre nos próximos meses, com a ajuda de 230 bilhões de dólares de fundos para a reconstrução, obtidos num raro acordo entre o governo e a oposição.
"Na história recente, o Japão conseguiu uma rápida expansão econômica proveniente das cinzas e desolação da Segunda Guerra Mundial, e nós construímos a economia mais eficiente do mundo em termos energéticos após a crise do petróleo", disse o primeiro-ministro japonês, Yoshihiko Noda, num artigo publicado no jornal Washington Post.
"No aniversário do Grande Terremoto no Leste do Japão, nos lembramos que hoje enfrentamos um desafio de proporções semelhantes."
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