O príncipe Mikasa, tio do imperador japonês Akihito, morreu nesta quinta-feira (27), aos 100 anos, deixando somente quatro herdeiros para o Trono do Crisântemo, informou a Agência da Casa Imperial.
A morte de Mikasa coincide com a atenção renovada referente ao futuro da idosa e minguante família imperial e com o debate sobre a permissão para que mulheres herdem o trono, o que romperia uma tradição de sucessão exclusivamente masculina que conservadores dizem ser crucial para um costume imperial que remonta há 2.600 anos.
Mikasa era o irmão caçula de Hirohito, pai do atual imperador, por quem o Japão lutou na Segunda Guerra Mundial.
O príncipe, um estudioso de história oriental antiga, lecionou em universidades e serviu como presidente honorário do Centro de Cultura do Oriente Médio do Japão e da Sociedade Japão-Turquia.
Em agosto, o imperador Akihito, de 82 anos, deu a entender que deseja abdicar -- um gesto inédito no Japão moderno e impossível pela lei atual. Entre os quatro herdeiros homens remanescentes está o príncipe Hisahito, de 10 anos, o único neto do imperador. Os outros três são o irmão de 80 anos de Akihito e seus dois filhos de meia idade, incluindo o príncipe herdeiro Naruhito.
O Príncipe Mikasa (三笠宮崇仁, Mikasa-no-miya) (Tóquio, 2 de dezembro de 1915 — Tóquio, 27 de outubro de 2016) foi o quarto filho do Imperador Taishō do Japão e de sua consorte, a Imperatriz Teimei. Era o irmão caçula do Imperador Shōwa (Hirohito) e o único tio sobrevivente do atual Imperador, Akihito. Com a morte de sua cunhada, a Princesa Takamatsu, em 17 de dezembro de 2004, o Príncipe Mikasa se tornou o membro mais velho da Casa Imperial do Japão.
Depois de servir como oficial de cavalaria na Segunda Guerra Mundial, o Príncipe Mikasa tornou-se um letrado conferencista do Oriente Médio e de línguas semitas.
O Príncipe Takahito nasceu no Palácio Imperial, em Tóquio, durante o terceiro ano do reinado de seu pai. Na infância, era chamado de Príncipe Sumi. Entre 1922 e 1932, ele fez sua educação elementar e secundária em Gakushuin, instituição que, à época, educava meninos da nobreza japonesa.
Quando seu irmão mais velho, Hirohito, ascendeu ao Trono do Crisântemo, os demais irmãos de Takahito, o Príncipe Chichibu e o Príncipe Takamatsu, já haviam entrado no Exército Imperial Japonês e na Marinha Imperial Japonesa, respectivamente. Ele foi então matriculado na Academia Militar, sendo comissionado como subtenente do 5.° Regimento de Cavalaria, em junho de 1936.
Quando adquiriu maioridade em dezembro de 1935, seu irmão, o Imperador, concedeu-lhe o título de Príncipe Mikasa e a autorização de estabelecer um novo ramo na Casa Imperial, isto é, contrair matrimônio e ter filhos.
O Príncipe Mikasa foi elevado a tenente em 1937; a capitão em 1939; e a major em 1941. Ele serviu como oficial de Estado-Maior no quartel das Forças Expedicionárias do Japão em Nanquim, China, entre janeiro de 1943 e janeiro de 1944. Depois, serviu como oficial de Estado-Maior no Quartel Geral Imperial, em Tóquio, até a rendição incondicional japonesa em agosto de 1945.
Em 1994, um jornal revelou que, durante a Guerra do Pacífico, o Príncipe Mikasa escrevera uma polêmica indiciação da conduta do Exército Imperial do Japão na China, tendo testemunhado as atrocidades japonesas contra civis chineses. Embora o documento tivesse sido abafado, restara uma cópia, que circulou naquele ano.
No dia 22 de outubro de 1941, o Príncipe Mikasa desposou Yuriko Takagi (nascida em 1923), a segunda filha do visconde Masanori Takagi. O Príncipe a Princesa Mikasa tiveram cinco filhos, dos quais duas ainda estão vivas. As duas filhas do casal deixaram a Casa Imperial com seus casamentos.
Yasuko Konoe (26 de abril de 1944), nascida Princesa Yasuko de Mikasa; desposou, em 16 de dezembro de 1966, Tadateru Konoe, neto adotado do ex-primeiro-ministro Fumimaro Konoe e primo do também ex-primeiro-ministro Morihiro Hosokawa. Tadateru é o atual presidente da Sociedade da Cruz Vermelha do Japão. Eles têm um filho, Tadahiro.
Príncipe Tomohito de Mikasa (5 de janeiro de 1946 - 6 de junho de 2012); desposou, em 7 de novembro de 1980, Nobuko Aso, terceira filha do empresário Takakichi Aso e irmã do ex-primeiro-ministro do JapãoTaro Aso. Nobuko é também neta do ex-primeiro-ministro Shigeru Yoshida. O casal teve duas filhas.
Príncipe Katsura (11 de fevereiro de 1948 - 8 de junho de 2014); não foi casado.
Masako Sen (23 de outubro de 1951), nascida Princesa Masako de Mikasa; desposou, em 14 de outubro de 1983, Masayuki Sen, o décimo sexto grão-mestre hereditário (iemato) da Escola de Cerimônia do chá Urasenke. Eles têm três filhos: Akifumi, Takafumi e Makiko.
Príncipe Takamado (29 de dezembro de 1954 — 21 de novembro de 2002); desposou, em 6 de dezembro de 1984, Hisako Tottori, filha mais velha de Shigejiro Tottori, ex-presidente da Matsui & Co. na França. O casal teve três filhas.
Visita ao Brasil
Em 1958, por ocasião do cinqüentenário da imigração japonesa, o então jovem Príncipe Mikasa veio ao Brasil para participar das comemorações. Juscelino Kubitschek trouxe-o para conhecer Brasília (em construção), onde, após um almoço no Palácio da Alvorada, o ex-presidente brasileiro quis apresentá-lo aos colonos japoneses. Embora o embaixador japonês no Brasil tivesse explicado a ele o protocolo imperial, que proíbe qualquer cidadão comum de ficar muito próximo de um membro da Casa Imperial, Juscelino desobedeceu a tradição. Os imigrantes japoneses emudeceram e, logo depois, choraram com a presença do Príncipe Mikasa. Esteve na cidade de Marília, São Paulo, em 22 de junho de 1958 onde foi recebido pelo prefeito Miguel Argolo Ferrão, em solenidade diante de autoridades locais, inaugurou um Jardim e plantou um ipê no Paço Municipal de Marilia. O Monumento feito em pedra rústica esta neste Jardim com os dizeres: "Este ipê foi plantado por sua Alteza Imperial o Príncipe Mikasa . Marilia, 22 de Junho de 1958". Ele também esteve em Santos, onde foi recebido pelo então prefeito Sílvio Fernandes Lopes.
Carreira pós-guerra
Após a guerra, o Príncipe Mikasa estudou na Faculdade de Literatura da Universidade de Tóquio, estudando arqueologia, o Oriente Médio e línguas Semitas. Desde 1954, ele dirigiu a Sociedade Japonesa de Estudos do Oriente Médio, realizando palestras em várias universidades do país e do exterior, tais como a Universidade de Londres.